Uma fuga abençoada: O projeto Olho de Belize entrevistou Charlene França, professora e escritora.

24/09/2020 22:18

Entrevista

1. Quem ou o que você lia antes de começar a escrever seu primeiro livro?

R: Eu lia os clássicos. Era a aluna do curso de Letras amante do cânone. Os contos, crônicas e poesias já me chamavam a atenção desde o ensino médio. Rubem Braga, Clarice, Mário, Oswald, Machado, os autores românticos. Um pouco de tudo. Pouco mesmo. Tenho a dívida de não ter lido tudo o que gostaria, ou não ter lido as obras completas.

2. Como definiria seu estilo de escrita e qual seu gênero favorito para escrever?

R: Os meus gêneros favoritos para a escrita são a poesia e a crônica narrativa. Meu estilo geralmente envolve uma linguagem poética e permeada de figuras que serve para enlevar as situações mais simples e cotidianas.

3. Qual o gênero literário mais difícil de escrever, na sua opinião?

R: O romance é o gênero mais complexo de desenvolver, para mim. Estou realizando a minha primeira experiência com a narrativa longa. É apaixonante, contudo dá um trabalho maior. A poesia é um gênero difícil, mas como exercito desde a adolescência, já acontece muito naturalmente.

 

4. Seus hábitos de leitura influenciam na sua escrita?

R: Algumas vezes sim. O que eu leio geralmente acaba influenciando de alguma forma o que eu produzo.

5. Quais são seus autores e autoras favoritos quando se trata de literatura brasileira?

R: Eu sou apaixonada pela literatura nacional em todos os seus momentos e movimentos estéticos. Entre os preferidos posso citar Carlos Drummond e Ana Cristina Cesar.

6. Você tem algum autor ou autora como influência direta na sua escrita?

R: Sem dúvida, Drummond e Ana C.

7. Qual o seu livro favorito e qual a razão dessa escolha?

R: Não consigo eleger um único livro como favorito. Citarei “A lição do amigo”, que são cartas do Mário de Andrade para o Drummond e é maravilhoso.

8. Como é sua rotina de escrita? Tem uma?

R: Sou muito indisciplinada, mas gosto de escrever à noite, quando não há mais nenhum outro afazer pendente.

9. Como foi o processo de escrita do seu primeiro livro? Quais foram os maiores desafios?

R: O meu primeiro livro Diversus devaneios do cotidiano (2012) foi uma reunião de textos que eu já tinha publicado em trabalhos coletivos. Comecei a publicar escrevendo para antologias e participando de concursos literários. No final de 2011, houve o desejo de reunir esses trabalhos em um livro solo. Fazia falta. Os desafios maiores sempre são financeiros, já que um novo autor dificilmente tem espaço em grandes editoras e precisa, na maioria das vezes, financiar a própria publicação.

10. O território da Baixada aparece nos seus escritos? Se aparece, de que forma isso é construído no texto? Se não aparece, qual o motivo disso?

R: Dificilmente aparecia. Meus textos são poemas amorosos ou metalinguísticos em sua maioria. As narrativas não tinham espaço tão definido, só recentemente os espaços da baixada e do município do Rio de Janeiro começaram a aparecer um pouco mais. É sempre um olhar pra dentro. Um mergulho. O cotidiano e as emoções apresentadas são comuns a todos os espaços. Recentemente, escrevendo muitas narrativas curtas, tenho pensado mais nessa questão.

 

11. Quais são suas influências não-literárias?

R: Todas as manifestações artísticas são muitíssimo enriquecedoras. Principalmente a música, cinema e teatro.

12. Qual o livro mais recente que leu? Gostou?

R: Estou indisciplinada para a leitura também e nessa pandemia tenho me dedicado mais à escrita. Mas estou lendo bem devagar o “Guia de escrita” do Steven Pinker e volta e meia alguma poesia da Hilda Hilst e alguma crônica do Lima Barreto e Mário de Andrade. A leitura mais recente é “José” do Rubem Fonseca. Sim, estou gostando muito!

13. A literatura salva?

R: Sempre. Ela nos salva de nós mesmos e da realidade, que não basta. É uma fuga abençoada por um caminho que nos leva ao aprendizado e ao encantamento.