Entrevista com o autor e crítico de cinema Octávio Caruso

16/04/2020 20:12

Conheça um pouco mais o trabalho do talentoso crítico de cinema, escritor e apaixonado por arte e por música, Octávio Caruso.

 

1.Para que meios ( jornais, revistas, blogs ) você trabalha atualmente?

 

Atualmente escrevo em meu próprio site, Devo Tudo ao Cinema (www.devotudoaocinema.com.br), mas já escrevi para vários veículos, como o Jornal do Brasil, Sidney Rezende e Críticos.com.

2.Quando e como começou a sua relação com a escrita? 

 

Desde muito novo amo ler e escrever, vencia concursos de poesia na escola primária, disputando com alunos de turmas mais avançadas. Filmes e livros sempre foram meu oxigênio, então foi algo natural. Profissionalmente, comecei em 2008 no blog Vertigo Pop, do amigo André Moreira, lancei meu primeiro livro em 2013 (Devo Tudo ao Cinema, pela editora Litteris), mas comecei na máquina de escrever que meu avô materno me presenteou ainda na infância. 

3. Hoje, quais são os principais desafios enfrentados por quem trabalha com cinema no Brasil? O que falta ao cinema nacional? 

 

Há uma divisão importante, quem ama cinema e quer produzir curtas independentes, e quem quer ganhar dinheiro com isto. Se a pessoa quer ganhar dinheiro, quer colocar seus filmes no circuito comercial, só se tiver muito dinheiro, patrocínios, "costas quentes". Se a pessoa, como eu, não tem grana, mas quer produzir, ela precisa reunir um grupo de pessoas com o mesmo intuito, escrever o roteiro e dirigir. Se a pessoa tiver estrela, carisma, competência, estofo cultural, ela consegue conquistar gradativamente a respeitabilidade do público. O que flata ao cinema nacional maistream é criatividade, ousadia, graças à décadas de acadêmicos inseguros e frustrados que demonizaram os gêneros nas faculdades, elevando exageradamente nomes como Glauber Rocha, que considero o "patrono dos chatos". Por décadas, se a pessoa não fosse de esquerda, não seguisse a cartilha, não conseguia dar dois passos na indústria. Hoje a coisa começa a mudar... 

4. Como você relaciona literatura e cinema? Quais seriam os principais pontos de convergência entre as duas manifestações?

 

Elas são artes que se retroalimentam, dificilmente um apaixonado por cinema não gosta de ler e vice versa. O principal ponto de convergência é que ambos são alicerçados no acúmulo de cultura. Por exemplo, especialistas em futebol só falam sobre futebol, o papo fica no "chutou com a perna direita ou esquerda?". Já uma "mesa redonda" de apaixonados por cinema e literatura abrange infinitos temas, filosofia, música, psicologia, até mesmo esportes. 

5. Quais temáticas norteiam seus dois livros publicados? Fale um pouco de seu trabalho como autor.

 

O "Devo Tudo ao Cinema" é uma autobiografia disfarçada, aborda o poder do cinema como elemento de inspiração, que utilizei na infância e adolescência para enfrentar o bullying na escola, a introversão patológica. O "A Arte do Guerreiro Lúcido" já é um trabalho de ficção, envolvendo sci-fi, suspense e críticas políticas, uma história que, em essência, aborda a necessidade de permanecer íntegro, lúcido, diante do caos. O terceiro que estou finalizando é mais visceral, aborda a angústia de se trabalhar com cultura neste país. 

6. No cinema, quais são seus gêneros favoritos? Para você, essa preferência é também a preferência dos demais brasileiros?

 

O meu gênero de formação foi o terror, sci-fi, mas amo também o faroeste e o musical. A preferência do brasileiro é a pornochanchada, sendo bem sincero, o contato do nosso povo com cinema é imediatista, infelizmente, vai nos sentidos básicos, nada que demande muita reflexão, a interpretação de texto é um problema grave entre adultos alfabetizados e, por incrível que possa parecer, diplomados. Luto para melhorar este panorama desde que comecei profissionalmente como crítico de cinema em 2008.

7. Na literatura quem são suas referências? 

 

Difícil questão, mas quando comecei a ler, estes nomes foram fundamentais, Monteiro Lobato, J.J. Benítez, Agatha Christie, Stan Lee e Katsuhiro Otomo. Já na adolescência, Asimov, Clarke, Nietzsche, Camus, Kafka, Proust e Dumas, autor do meu livro favorito, "O Conde de Monte Cristo". Hoje, bebo de todas as fontes possíveis, leio pelo menos 2 livros por mês.

8. Que conselho você daria a alguém que está começando a trabalhar com a crítica cinematográfica? 

Primeiro, sonde se você realmente ama esta arte (leia-se, por vontade própria, por curiosidade natural, buscou desde sempre estudar filmes antigos, de todos os gêneros e nacionalidades). Se sim, saiba que não vai ganhar dinheiro com isto, infelizmente é a realidade brasileira. Se a frase anterior não te desmotivou, está no caminho certo...

9. Ser cinéfilo é? 

 

Respirar filmes 24 horas por dia e buscar neles fonte de inspiração para viver.

10. A pergunta que não quer calar: O que é melhor, o filme ou o livro?

 

Varia muito, não há uma verdade absoluta. Posso te dar exemplos de adaptações cinematográficas que superam a obra literária original, outras que passam vergonha em comparação. O melhor mesmo é VER filmes e LER livros, sempre!